Rev. Alderi Souza de Matos
Os primórdios do presbiterato são muito antigos na tradição judaico-cristã. Os primeiros presbíteros foram os anciãos, mencionados muitas vezes no Antigo Testamento a começar da época do Êxodo. Eram os representantes do povo, sendo por isso mesmo denominados “anciãos de Israel” (Êx 3.16), “anciãos do povo” (Êx 19.7) e “anciãos da congregação” (Lv 4.15). Eles exerciam importantes funções de liderança e participaram dos eventos mais significativos da história de Israel, sendo escolhidos por sua sabedoria, maturidade e discernimento. Deviam proteger o povo, exercer disciplina, fazer cumprir a lei de Deus e administrar a justiça. Esses anciãos judeus serviram de modelo para os presbíteros cristãos.
As primeiras igrejas do Novo Testamento logo começaram a ser governadas por presbíteros eleitos pelas comunidades. No livro de Atos dos Apóstolos, nós os vemos administrando recursos materiais, julgando questões doutrinárias e resolvendo conflitos. Atos 14.23 é a primeira passagem que fala sobre a instituição do presbiterato em igrejas locais. Fica claro que o apóstolo Paulo seguia essa prática nas igrejas que estavam sob sua responsabilidade (Tt 1.5). Na valiosa passagem de Atos 20.17-35, os presbíteros são instruídos acerca do significado e das atribuições do seu nobre ofício. A grande relevância do presbiterato cristão também é ressaltada em textos como 1 Timóteo 3.1-7 e 1 Pedro 5.1-4.
A Reforma Protestante restaurou o presbiterato cristão ao seu modelo bíblico original. Isso aconteceu de modo especial na Reforma Suíça ou Movimento Reformado, cujos líderes iniciais foram Ulrico Zuínglio e João Calvino. No princípio, os presbíteros tinham funções quase que exclusivamente disciplinares, mas aos poucos surgiu um entendimento mais abrangente do seu ofício, para incluir responsabilidades administrativas e pastorais. Influenciado pelo colega mais velho Martin Bucer, Calvino propôs quatro tipos de oficiais para as igrejas reformadas: pastores, mestres, presbíteros e diáconos. Com pequenas diferenças, esse modelo (com os pastores concentrando também a função de mestres) foi adotado por todas as igrejas reformadas através da Europa, principalmente na França, Holanda e Escócia.
A Forma de Governo Eclesiástico Presbiterial (1645), um dos documentos aprovados pela Assembleia de Westminster, declarou o seguinte: “Como havia na igreja judaica anciãos do povo unidos aos sacerdotes e aos levitas no governo da igreja, assim Cristo, que instituiu o governo e líderes na igreja, supriu alguns em sua igreja, além dos ministros da Palavra, com dons de governo e com o encargo de exercê-los quando para isso chamados, os quais devem associar-se ao ministro no governo da igreja, oficiais esses que as igrejas reformadas geralmente denominam presbíteros”. Ver também a Confissão de Fé de Westminster, 31.1. As igrejas presbiterianas norte-americanas adotaram desde o início o presbiterato, levando-o para os países onde realizaram trabalho missionário, como o Brasil. Ao criar-se o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil (1888), foi adotado o Livro de Ordem da Igreja do Sul dos Estados Unidos (PCUS), com sua forte ênfase no ofício presbiterial.
Tem sido relevante o presbiterato à luz das Escrituras e da história do cristianismo. Importante no Antigo e no Novo Testamento, esse ofício foi altamente valorizado pela Reforma e pela tradição reformada. No Brasil, após uma demora inicial, motivada pelas circunstâncias do período pioneiro, os presbíteros progressivamente ocuparam uma posição de grande destaque na estrutura da Igreja Presbiteriana. Esperamos que, motivados por essa história e pelos exemplos desses valorosos servos do passado, os presbíteros atuais se sintam ainda mais motivados e incentivados a exerceram fielmente o elevado encargo para o qual Deus os vocacionou.
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