Apenas
um vaso de barro
João
Calvino
2Co4.7
- Temos, porém, este tesouro. Quem
ouvisse Paulo ostentar de forma tão extremada a excelência de seu ministério, e
visse ao contrário quão ignóbil e abjeto era ele aos olhos do mundo, concluiria
que sua ostentação era infantil e em si mesma estulta e ridícula, uma vez que
baseavam seu julgamento na insignificância de sua pessoa externa. Os ímpios,
especialmente, se aferravam a este fato como um pretexto que corroborava para
que lançassem tudo sobre Paulo com desprezo. Porém, com a maior habilidade, ele
revertia em maior triunfo as mesmas coisas que aos olhos dos ignorantes
pareciam mais degradar do que glorificar seu apostolado. Primeiramente, ele se
utiliza da metáfora do tesouro que geralmente não é guardado numa caixa
esplêndida e ricamente decorada, senão que é depositado em algum recipiente
vulgar, sem qualquer atrativo. Ele, então, adiciona que é assim que o poder de
Deus é mais sublimemente glorificado e mais claramente percebido.
É
como se dissesse: "Os que usam o aviltamento de minha pessoa como escusa
para denegrir a honra de meu ministério, são juízes injustos e irracionais,
porque um tesouro não se torna menos valioso por ser depositado num recipiente
sem qualquer valor. De fato, esta é uma prática muito comum, pois grandes
tesouros têm sido guardados em potes de cerâmica. Dessa forma, eles não
compreendiam que as coisas foram tão bem ordenadas pela providência especial de
Deus, de modo que nos ministros não deve haver qualquer aparência de
excelência, a fim de que nenhuma grandeza propriamente sua obscureça o poder de
Deus. Portanto, uma vez que a condição abjeta dos ministros, e a
insignificância externa de suas pessoas, propiciam ocasião de Deus receber
maior glória, é insensato e errôneo medir a dignidade do evangelho pela pessoa
dos que o pregam." Porém, aqui Paulo está falando não apenas da condição
dos homens, em geral, mas está avaliando a sua própria situação pessoal, embora
seja verdade que todos os mortais não passam de vasos de barro. Tome-se o mais
eminente dos homens que se puder encontrar, alguns maravilhosamente dotados de
todos os dotes de berço, como intelecto e fortuna, mesmo que seja ele um
ministro do evangelho, não passará de um indigno e terreno depositário de um
inestimável tesouro. Não obstante, Paulo está pensando em si mesmo e em seus
associados, os quais eram frequentemente tratados com desdém precisamente
porque nada possuíam de externo para exibirem.
8.
Embora sejamos premidos de todos os lados. Isto
é adicionado à guisa de explicação, com o fim de mostrar que a sua condição
abjeta, longe de denegrir a glória de Deus, antes servia para promovê-la.
"Porque", diz ele, "somos reduzidos a humilhação, mas, por fim,
o Senhor abre uma via de escape; somos oprimidos com pobreza, mas o Senhor vem
em nosso socorro. Muitos inimigos estão de mãos dadas contra nós, mas na
proteção do Senhor estamos seguros. Noutras palavras, ainda que sejamos
reduzidos a nada, ao ponto que todos pareçam superiores a nós, contudo não
pereceremos." A última possibilidade mencionada, de todas é a mais séria.
Veja-se como reverte ele em vantagem todas as acusações que os ímpios lhe
assacavam.
Fonte: O Calvinista
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